quinta-feira, maio 24, 2007

Contra as "coisas" vivam os livros



A Feira do Livro do Porto abre hoje as suas páginas. Que podem ser lidas no Palácio de Cristal, até ao dia 10 de Junho.

sábado, maio 12, 2007

Cascata de granito


«O cenário onde isto se passou é dos mais pitorescos que os meus olhos viram: a Ribeira, ou a Ribeira Velha, creio eu que lhe chamam. É um cais sobre o Douro, perto da ponte de D.Luís. Todo o aspecto em redor é pesado e amontoado, conforme o carácter da cidade, Desde aquele cais a cidade sobe sempre em todas as direcções até à Torre dos Clérigos. Na outra margem a ascensão igualmente à de cá, de modo que o rio parece ter metido pelo mais alto de um monte que ficou dividido. Tudo isto faz com que o cais nos dê a estúpida impressão de estar enterrado. Lembro-me de umas interessantíssimas casas cujos alicerces se adivinham por causa da solidez com que as suas fachadas intimam os nossos olhos. Julgo serem vermelhas ou foi a impressão violenta da cor que me deixaram. Do que bem me lembro é dos arcos em vez de portas e de umas janelas que pareciam desviadas dos seus respectivos lugares.»

Almada Negreiros in Nome de Guerra (1938)

domingo, maio 06, 2007

As escadas da Lello

Livraria Lello, Rua das Carmelitas, Porto

Não era assim o nome deste poema.
Eu queria, de novo, o entrecruzar dos
corpos à hora do almoço descendo
as escadas da Lello.

Não sei porque arbitrária razão vejo
descer o retrato pintado em tábua.
Seus olhos dão fogo os meus dão-
lhe água
a menos que me dê o caminho da lua.

Não era assim. Era a hora do almoço.
Desciam as escadas vindos das nuvens
do lamento das aves
do murmúrio do vento. Vinham,

não, vinha do escuro
retrato longe dos olhos e
desta acabada história. A um canto,
como se fosse um café de estudantes,
juro um amor de sempre.

Descendo as escadas
longe dos livros
longe das nuvens
longe de tudo.


João Miguel Fernandes Jorge


in Ao Porto, Colectânea de Poesia sobre o Porto, Publicações D. Quixote, 2001