domingo, dezembro 14, 2008



(Massarelos, à beira Douro)



Chove no teu pequeno rosto, chove
quando não saberei, e não sei nada.
E todo o tempo que me tem ferido
vai-se decantando nesta chuva.
- Que árvores estas, se não podem aplacá-la?

Cheguei de longe, esqueci quando, e chove
Meu país é um adeus, a casa dizimada:
alcancei enfim morada, e és tu,
pequeno rosto sobre o qual a chuva
é voz íntima, cálida.

Estagnam barcos no rio surdo, e chove.
Nuvens oprimem com rigor perverso.
Enleio-me em teu pequeno rosto,
fogo interior da chuva onde se embebe
um sussurro a fender tanto silêncio.



Madrigal à chuva, José Bento

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